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9 de fev. de 2007

Presente...


Caminhavas despreocupada,
com uma leveza quase que irreal.
Corro para alcançar teu passo,
chego até você e perco a voz,
a segurança, a cabeça.

Te olho firme
em teus olhos dispersivos.
Sinto o perfume juvenil que usas,
vejo o torneado bronzeado do teu corpo,
e não sou capaz dizer nada.

Me olhas assustada e segues segura.
Consciente que acaba de me hipnotizar
com tua beleza, com teu jeito,
com tua distancia.

Pouco depois volto,
procuro tua silhueta,
e não te vejo.
Corro tropeço desesperado,
pra te achar outra vez,
mas canso de nada encontrar
e sigo abatido.

Caminho como um sonhador satisfeito,
em que, mesmo por instantes,
ter tido você tão perto,
tão junto a mim.

Muita sorte ou benção ter visto você.

Muitos anos se passam
e já não lembro como caminhavas,
como era teu corpo,
do cheiro único de tua pele.

Pena, já não sou o mesmo sonhador.

E na esquina, o sinal fica vermelho,
paro o carro,
absorto no dia a dia.
procuro uma vaga,
consigo estacionar.
Desço me viro para fechar a porta.
e te vejo caminhando, linda,
com a mesma leveza de quinze anos atrás.

Mas já não ouso correr em teu encalço.

Te sigo apenas com os olhos,
hoje já mais cansados
e sinto que nada mudou em você,
mas sigo sozinho.

Chegando ao meu destino,
percebo que alguém me espera
e quando chego perto,
minhas narinas sentem
o mesmo fragor de anos atrás.

Logo te viras
e para minha surpresa,
tens apenas dezoito anos.

Penso confuso,
não pode ser a mesma pessoa,
mas não consigo ver
qualquer diferença.

Teus lábios, ainda mais carnudos,
se movem apenas o suficiente
para que mostres dentes perfeitos
e me olhas como que impondo
teus desejos.

Manda que eu me cale.

Você chega,
pega minha mão e beija
com infinita ternura.
Percorre com tuas mãos meus ombros,
acaricia meu rosto.

Teus dedos se perdem no emaranhado
dos meus cabelos e lança um olhar
cheio de desejo, de carinho.

Rápido, teu vestido vai ao chão,
enchendo com teu corpo,
o lugar com uma luz difusa,
fazendo agora uma penumbra,
com tom mágico e convidativo.

E em ato continuo,
me puxas e cola
teus lábios nos meus.

Te olho espantado,
tentando falar,
querendo entender alguma coisa.

Mas teu corpo nu, junto ao meu,
me leva apenas a entender
que não sou mais senhor
de minhas vontades.

E sem uma única palavra sequer,
tiras peça por peça de minhas roupas.
Me deita decidida e senhora,
no chão frio e começa
a me dar teu corpo em harmonia,
em loucura,
em amor,
em vez única.

Ficamos cerca de,
nem sei, quanto tempo juntos.
Apenas nos amando,
vivendo em nós dois o amor,
ficando serenos e satisfeitos.

Nesse instante,
ainda meio atordoado e surpreso,
te via consciente e segura.

Sem dizer nada,
te levantas,
veste tuas roupas,
abre a porta e diz:

_Obrigada senhor,
por aceitar este presente.
Por aceitares a mim,
como aceitarias minha mãe.
Obrigada.

Fecha a porta e parte.

E eu,
com os olhos semi-abertos,
te vejo sair ligeira e decidida.
E sem querer te perder,
volto rápido a sonhar.

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4 comentários:

Anônimo disse...

Poeta, como poderemos negar que o tempo apaga os sonhos? Somos todos sonhadores, da mesma forma, que a tempos atrás.
Como diz Buda" De tudo que flui no mundo, a recordação é um dique"
E nada melhor que recordarmos e vivermos sonhos, mesmo os mais antigos!!
Linda poesia, sedutora e sonhadora!!
Beijos

Anônimo disse...

Fascinante poesia.

Anônimo disse...

Que viagem mais louca poeta, adorei.
Vc é realmente surpreendente.
Mil beijocas.

Anônimo disse...

Poeta, só os artistas tem esta capacidade de viver a mistura do real com o irreal de maneira natural, de fazer que o tempo volte com o mesmo cheiro e desejo, a deixar a imaginação voar se tornando um verdadeiro delirio do amor, da paixão, do não acontecido mas marcado nas lembranças boas, num momento de total descontração a imaginação forma momentos e prazeres de um desejo desejado. Uma grande viagem!

E eu,
com os olhos semi-abertos,
te vejo sair ligeira e decidida.
E sem querer te perder,
volto rápido a sonhar.

Um beijo poeta.