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17 de set. de 2007

Noite fria... Parte I e II



Que horas, não importa, faz frio.
Noite densa e ar pesado demais,
longe demais.

Essa é a hora das lobas e incautos renascerem,
onde o vicio e a solidão, de mãos dadas,
ferem corações, futuros e bolsos.

Na ruela em plena penumbra,
caminho absorto da insegurança que me cerca.
Ouço vozes, risos de mulher,
gritos de arrependidos e sigo.

Busco o acaso, sem medo ou pressa.

Não, não...

O acaso não é companhia, nem descarrego.
É a palavra sem troco, sem volta,
que precisamos de estranhos em noites assim.

Uma lâmpada fluorescente quase queimada,
pisca desvairada, atraindo olhares,
mariposas e putas.

_ Boa noite, um maço de Carlton, por favor.

Logo uma mão ensebada pela vida no dia a dia,
estende a perfeita caixa de desculpas,
com certos vinte arrependimentos.

- Só isso, patrão?
_ Sim, obrigado.

Abrindo o maço, retiro o mais afoito deles
e lhe ofereço meus últimos pedaços de pulmão.
A fumaça queima forte junto com o frio.
Terra ruim de viver essa... balanço a cabeça
como que para aprovar meus pensamentos.

Do outro lado da rua, um casal não casado,
segue em ritmo de orgasmo.
Um sorriso sem vontade brota em meu rosto
ao ver o esforço que fazem para que o
frio não os roube o tesão e seguem,
agora dois sendo um.

Passo ao largo sentindo o cheiro de sexo
no ar.
Meus instintos de macho despertam e
voltando a cabeça para o casal, desejo sorte no final.

Olho a rua, mais escura que acesa e
ao atravessar, sinto uma mão
pequena e suave em meus ombros.

- Quer companhia?

De onde surgiu aquela mulher?
De repente do meio da aventura, aquela voz
doce e firme me traz de volta a realidade.

_ Como?

- Quer companhia amor?
- Parece tão sozinho.
- Posso fazer loucuras essa noite contigo.
- E ai?

Tiro sua mão do meu ombro e sem força alguma,
coloco a mulher a minha frente.

Parecia um menino, gorro verde na cabeça,
jeans apertado, um colete preto, que curto
me deixava ver que gostava de malhar.
Um casaco de uma cor inimaginável,
cobria o corpo frágil da mulher bonita
que tinha a minha frente.

_ Não obrigado, estou só de passagem.

De passagem, todos estão de passagem nessa rua.

- Não sabe o que esta perdendo.
- Sou completa e muito carinhosa.

Com certeza carinhosa era sua voz era doce
demais pra que não fosse.

_ Com certeza sei o que estou perdendo,
mas não obrigado.

- Espera, pode me acompanhar até aquele boite,
preciso ir ao banheiro e mulher sozinha não entra
essa hora?

Nesse momento a luz vermelha se acende em minha cabeça.
Perigo eminente, mas quem não gosta de um pouco de adrenalina
e afinal sempre fui um cavalheiro.

_ Sem problema, mas não demora muito.

Ao chegar, fui até o bar, enquanto a mulher se encaminhava
ao Toalete.
Verifiquei o ambiente e nada de anormal notei.
Apenas homens solitários e mulheres sofridas,
bocejavam em seus cantos.

Perto de um pôster do velho Che, um termômetro marcava seis graus
e isso era muito frio pra quem, apenas com um blazer fino,
estava dando chance a vida por essas frias paragens.

Pedi uma dose de conhaque e com o descer do álcool
queimando, mais uma vez reconheço que não gosto de
bebida.
Esquenta o corpo, por instantes e esfria a alma
logo em seguida.

Nisso Katiucha, era esse seu nome, volta e sem cerimônia
alguma diz taxativa.

- Vamos meu gato, hoje é tua noite de sorte.
- Hoje terás a melhor noite da tua vida e nem vai
precisar pagar por isso.
- Vamos pra minha casa.

Ainda meio surpreso, saio do bar e numa ultima tentativa
de preservação, seguro o braço da mulher e com voz rouca
de frio falo baixinho.

_ Se vamos a algum lugar, vamos onde eu quiser.
_ Táxi!

Seus olhos verdes faiscaram em minha direção como que
duvidando do que estava acontecendo.

- Espera gato, vou dar pra você de graça, porque foste
gentil e adorei teu jeito de me olhar, mas nem por isso
vou receber ordens tuas.
- Se esta com medo de ir pra minha casa tudo bem, mas ordem
pra puta só se dá quando se esta pagando.
- O que não é o teu caso.
- Pra onde vai me levar?

_ Boa noite, um motel bom, por favor.

- Boa noite doutor, gentil cumprimenta o taxista.
- Por aqui não tem disso não, mas conheço um que é
bem jeitosinho e aqui perto.

_ Pode ir então, obrigado.

Katiucha chega sua boca bem perto do meu ouvido e diz
meio sem jeito;

- Esse motel é vagabundo demais, é melhor minha casa.
- Além de ser de graça.

Com jeito de menina levada, sorri como se aquele fosse
o maior dos segredos.

_ Você mora sozinha?

- Não.
_ Então como podemos ir pra tua casa?

- Moro com minha mãe e há essa hora já esta no oitavo sono.
- Sem problema.

_ Motorista, mesmo que seja longe, segue para um motel cinco estrelas,
por favor.


PARTE II


- Espera moço.
_ Sim moça...

- Gatinho vamos lá pra casa, não tem problema não.
- A casa é grande e fico numa parte independente.
- Pode ficar tranquilo que não sou má pessoa não.
- Quero apenas terminar minha noite com você e nem sei por que direito.
- Vamos vai.
- Nem é muito longe, vamos?

Outra vez a luz vermelha acendeu como um farol de final de pista.
Cuidado nunca fez mal a ninguém, logo.

_ Vamos sim.
_ Motorista segue para esse endereço.

Nesse momento um sorriso iluminou o velho táxi alegrando o ambiente,
que meio tenso, agora era pura adrenalina pelo desconhecido.

_ Teu nome verdadeiro qual é?

- Como sabe que Katiucha não é o verdadeiro?
- Só porque sou puta, tenho que ter nome de puta?

_ Espera Katiucha, mas esse nome sim é de puta realmente,
bem que eu acho que puta infelizmente não carrega sua profissão
só no nome.

_ Como você se chama então?

- Nadine, satisfeito?

_ Gostei do nome, mas não precisa fazer birra por isso.

- E você, pode dizer seu nome?

_ Claro que posso, mas não vou.

Um olhar triste e um pequeno muxoxo saíram daquele rosto,
que a cada instante mais me fascinava.

_ Você pode me chamar de Antonio.

- Gosto de Antonio, mas queria saber seu nome, afinal eu disse o meu.
- Mas tudo bem.
- De onde você é, já que daqui do Rio Grande sei que não?

_ Sou do Rio, estou aqui a negócios e vou embora logo cedo.

No táxi que fazia barulho de todos os cantos, um perfume suave mas bastante
instigante, dominava o ar, deixando a proximidade dos corpos mais sensível, mais necessitada ainda.

Ela não era assim, vamos dizer linda, mas com certeza uma bela mulher.
Levava no rosto sinais de sofrimento, dores e aventuras.
Uma mulher da vida e de vida incomuns.

Numa curva mais acentuada do Táxi, pude ver suas pernas, que
o jeans, com certeza de marca, deixou a mostra por estar bastante apertado e colado ao corpo.
Lindas e roliças pernas, assim como bem cuidadas.
O sapato de uma cor que ninguém se atreve a dizer qual, era de boa qualidade e de gosto refinado.
Estranho isso, pois estávamos em um bairro de trabalhadores e as "mocinhas" que ali labutam, não deveriam ter dinheiro e bom gosto para essas coisas.

Seguindo agora por avenidas largas e bem iluminadas, o táxi chegara à
zona dos bairros nobres da cidade.
Nadine a essa altura estava totalmente absorta em seus pensamentos.
Olhava fixo pela janela sem se importar com o mundo a sua volta.

_ Ei menina, ta certa do caminho?

- Estou sim gato.
- Oh desculpa, estava tão longe que nem te dei a atenção que você merece.
- Quero te pedir para não estranhar o lugar onde moro.
- Como disse a casa é da família e você sabe que as coisas não estão nada fáceis, por isso moro com eles.

_ E tua mãe como ela é?
_ Qual o nome dela?

- Ela se chama Nanci e é uma senhorinha maravilhosa.
- Se um dia conhece-la você vai adorar o jeitinho dela.

_ Tudo bem então, mas você não acha melhor eu te deixar em casa e seguir para o meu hotel?
_ Entendo que você não esteja bem e que pode estar sem jeito de me dizer isso agora.
_ Mas tudo bem, o importante é que nos conhecemos e que podemos nos encontrar num outro dia.

- Não meu gato, preciso de você hoje.
- Não tem idéia de como estava precisando conhecer alguém assim como você.

_ Assim como eu?
_ Como menina?

- Espera que em casa te digo o que quero de você e o que posso oferecer.

- Ok?
_ Ok...


Depois de um longo e terno beijo, o táxi chega a uma rua toda arborizada e com casas...

Continua...





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7 comentários:

R.Cássia Púlice disse...

Hummmm... Despertando a curiosidade... Mas, aguardo o restante... Bjks

Anônimo disse...

Aventura irresponsavelmente deliciosa. Sabor de liberdade. Muito bom!

Unknown disse...

Para mim...um dos teus melhores texto..senão o melhor....aguardo a continuação.....imaginando...

Anônimo disse...

Esperando a continuação...está um misto de suspense, aventura e sensualidade, que aguça nossa curiosidade.
Parabéns

Anônimo disse...

Nesta segunda parte, o suspense e a curiosidade aumentaram.
Aguardando o restante..rs

Unknown disse...

FICO AQUI PENSANDO..NESTA NOITE GAUCHA QUE VOLTA A ESFRIAR....NAS KATIUCHAS...E NADINES...QUE ESTÃO POR AI (AQUI) AFORA...E POR AQUI DENTRO....POETA...
VIESTES E NÃO PERMITISTES A OUTRAS... A MESMA HISTÓRIA...

Anônimo disse...

Poeta, estou ansiosa pra continuação... quero saber o que D. Nanci vai fazer kkkkkkk

Te beijo menino