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15 de abr. de 2008

Calcinha Branca de Algodão ...


Ela anda pela casa com o jeito mais despreocupado do mundo.
Cabelo ainda quase molhado pela manhã de uma noite-lembrança.
Pegando a torrada cheia de geléia diet com a delicadeza da pontinha dos dedos e acha que está mais cheinha, mais gorda do que queria estar,
como toda mulher.

É literalmente linda em sua imperfeição.

O camisão gigantesco é de muitos anos e faz questão de não
esconder nenhum furinho feito pelo tempo e maquinas de lavar.
Desbotado, é com certeza uma das coisas que mais guarda
o seu cheiro matinal, totalmente viciante.

O beijo morto, dado ainda nos lençóis, vem entre um sussurro ainda ininteligível de que a preguiça era maior que ela e
os cabelos desgrenhados pela noite.

Nenhuma mulher acorda parecendo que está num anúncio
da Victoria Secret, mas qualquer propaganda perderia
em naturalidade para seus sussurrinhos e miadinhos.

Ela tem manias e defeitos como todo ser vivo e adora
me roubar um beijo mesmo antes de escovar os dentes.
É uma dessas mulheres mágicas em sua simplicidade.

À luz da manhã de um domingo qualquer, lendo seu jornalzinho,
pergunta algo que sabe que não sei só para poder fazer piadinha de mim.
Fica feliz quando me ensina uma palavra nova,
cantarola uma música que nunca tocou no radio,
mas que só ela sabe de cor.
Tem calcinhas chiques para ocasiões especiais,
cheias de rendas como troféus para quem tem a chance de despi-la.

Ela sabe onde comprar aquela cinta liga alucinante que faz qualquer homem babar, e certamente tem, pelo menos, uma guardada da forma mais despreocupada possível naquela gaveta que você nunca abre.

Reclama da minha barba mal feita que às vezes, roça em sua nuca
ou em suas coxas.
Adora quando falo do seu umbigo ou quando peço para ela parar de me morder forte porque marca.
Vive falando mal da celulite que imagina estar invadindo seu corpo.

É lasciva o suficiente para conseguir tudo que quer com uma chantagenzinha emocional barata.
Me chama por um apelido que só ela usa e fala sarcasticamente mal de qualquer coisa que eu escreva só pra depois pular no meu colo
dizendo que era brincadeira.

Deixa a gola quase esgarçada do camisão para me mostrar o ombro e
quando salta pra pegar mais café, me diz cinicamente que é para parar de olhar pra sua bunda.

A mulher da calcinha de algodão branco.
É como tantas outras calcinhas que contam histórias secando
nas torneiras do chuveiro.
As calcinhas comuns, sem ocasiões especiais, sem desculpas por não serem sempre novas e lindas.
A mulher que reclama quando como algo que ela odeia.
A mulher que aperta meu pneuzinho perguntando de quem são aquelas carnes.

Existem poucas cenas mais completas do que assistir ao sono dela
em sua calcinha branca de algodão.
Acho que a calcinha me fascina justamente pela sua idéia mágica
de cumplicidade.

De sempre estar ali.
Pendurada no imaginário, dobradinha em cima da cama esperando sumir numa interminável gaveta ou andando pela casa antes de se esconder dentro
de uma calça num dia-feira qualquer.

Essa mulher é a que no elevador me puxa com o olhar mais tarado do mundo
e que segundos antes da porta abrir, me pergunta como está o decote.

A mulher da calcinha de algodão anda por aí,
todos os dias, despercebida em sua simplicidade,
fingindo uma timidez educada que esconde seu senso de humor debochado e
sua vontade eterna em me ver bebendo champanhe nas curvas de suas costas enquanto meus eternos compromissos esperam.

Ela é uma mulher, como tantas outras, incomparável.

Mesmo quando a gravidade inevitavelmente ganha suas batalhas e
o tempo a lembre, nas aulas de ginástica, que ela não tem mais 17 anos.

E daí se as pernas forem mais finas do que ela sempre quis que fossem?

E daí se seu pé não apareceria em outdoors de sandálias?

Sei que ela sempre vai elogiar as magrelas que trabalham como cabides ambulantes para os grandes nomes da moda.
Sei que ela sempre vai dizer que eu preferiria ver a Gisele Bundchen de biquíni numa revista do que tê-la ao meu lado.

E essa é uma das coisas boas dela.
Eu sei de um monte de coisas e ainda não me cansei disso.

A mulher da calcinha branca de algodão sempre vai ter algo inteligente
ou mesmo debochado para dizer.
Sempre vai reclamar que eu deveria dirigir com mais calma e
fazer pouco das outras mulheres que foram menos que ela na minha vida.

Esta mulher fica menstruada e reclama disso.
Sempre fala que fica inchada e se acha uma baranga
quando está de mau humor.

Esta mulher é falível e real.
Além de ser apaixonada por mim,
deve andar por aí olhando discretamente pra outros homens
(sem nunca fazer nada).
Pode certamente comentar de meus defeitinhos para suas amigas
ou ainda sonhar em ir a uma praia sem areia, que se amontoaria dentro do seu velho biquíni.

Ela vive, toma decisões erradas e ostenta outros milhões de defeitos.
Todos eles apaixonantes, porque vêm de alguém real e não de uma boneca de cera, sem personalidade, que muito homem queria ter para mostrar
pros amigos.


_ Promessa cumprida...rs


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Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons.

5 comentários:

Unknown disse...

RILTON!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
SIMPLESMENTE O MELHOR POEMA QUE TU ESCREVEU...
QUE PROMESSA HEIM!!!!
ESSA MULHER DE CALÇINHA BRANCA DEVE ESTAR TE AMANDO "UM POUQUINHO" MAIS AINDA..RSRSR
FIZESTE MUITAS OUTRAS MULHERES DE CALÇINHAS BRANCAS MAIS FELIZES..POR SABEREM..QUE ALGUÉM AS ENTENDEU.....
PARABÉNS..
HOMEM...TANTA SENSIBILIDADE...AGORA ME PERGUNTO...TU EXISTE? OU ÉS MULHER?
SRSR

eLIZ@ disse...

rs4rsrsrs Janine Vc é ótima!!!

Parabéns pelo poema! Essa mulher é REAL mesmo e bastante verdadeira...Pelo menos é o que parece...rs

R.Cássia Púlice disse...

Tão emocionante quanto o dia-a-dia das calcinhas brancas nos armários da vida... Tão delicioso quanto tirá-las, ou colocá-las, num streap-tease íntimo, solitário...
Tão verdadeiro quanto olhar-se apenas de calcinhas, brancas ou não, no espelho da alma... Maravilhoso! Bjks

Anônimo disse...

Poeta, este teu poema é uma paisagem deslumbrante no nosso imaginário, é a certeza na verdade em Amar, a integração de corpos e corações com uma cumplicidade total, com beleza de sentimentos, com naturalidade nos atos, com a certeza da confiança, com o deboche do mundo lá fora, com a pureza de dois meninos que simplesmente se amam!
Teu poema é real nas almas dos que tem como objetivo de vida, viver um Amor verdadeiro e total! Parabéns poeta... parabéns mil vezes!!! kkk


Ela tem manias e defeitos como todo ser vivo e adora
me roubar um beijo mesmo antes de escovar os dentes.
É uma dessas mulheres mágicas em sua simplicidade.

À luz da manhã de um domingo qualquer, lendo seu jornalzinho,
pergunta algo que sabe que não sei só para poder fazer piadinha de mim.
Fica feliz quando me ensina uma palavra nova,
cantarola uma música que nunca tocou no radio,
mas que só ela sabe de cor.
...
Esta mulher é falível e real.
Além de ser apaixonada por mim,
deve andar por aí olhando discretamente pra outros homens
(sem nunca fazer nada).


Kkkk, menino Poeta, como não ser apaixonada por você? É difícil, pois sabes tudo o que uma mulher anseia... sabes tudo o que é o amor... sabes tudo o que é conviver junto com paixão... sabes eternizar momentos... sabes tudo dos corações!!! És um menino fantástico! Kkk

Te beijo com paixão...

Anônimo disse...

Interessant. Kommt hier noch ein Folgeartikel? Möchte gern mehr darüber hören.

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